Por Juscelino kucinsky
Confesso
que fiquei surpreso ao saber pela TV que a primeira “audiência de trabalho” da
nova câmara municipal aconteceu na ultima sexta-feira. Já estamos na segunda
quinzena de fevereiro e por algum motivo, alheio a vontade de todos/as os/as
trabalhadores/as, somente agora os “representantes” do povo começam a
“trabalhar”. Pergunto-me onde esses parlamentares encontram respaldo moral -
digo isso porque é bem possível que exista algum dispositivo legal - por enquanto o povo em geral trabalha, eles “feriam” como se a eles não tivesse
sido delegado tarefas em nome desse povo.
Outra
coisa que causa estranheza é a repetição do discurso comum a todos os políticos
de plantão. Sempre dizem que querem que o povo compareça as seções, que a
câmara é a “casa do povo”, que o povo tem que fazer uso desse espaço e tal. Mas
não consta que se preocupem com o povo quando fazem seus conchavos e acordos
políticos, pessoais e financeiros. Quando fazem esses acordos não se perguntam
o que o povo acha disso, se o povo aprova isso ou não. Nessa hora o que vale
não é a vontade daqueles que os elegeram, mas sim os interesses políticos
pessoais, nunca os interesses políticos coletivos. Mas estranhamente convocam o
povo como se de fato o povo fosse ser ouvido e sua vontade fosse ser soberana
nesse espaço.
Mas
o quero discutir aqui nesse espaço é qual o sentido do trabalho pra esses
parlamentares. Primeiro começam a trabalhar quase dois meses depois que a
maioria dos mortais; segundo não trabalham os cinco dias uteis da semana e
muito menos as oito horas diárias. É bem provável que alguns irão dizer que
estou falando besteira, que não conheço o trabalho dos parlamentares e que
muitos ficam envolvidos horas a fio em projetos, mas que projetos? De todos que
foram reeleitos não conheço nenhum projeto do mandato anterior que tenha tido
algum tipo de impacto na vida da população de Altamira. Alguém lembra?
Educação, saúde, saneamento básico, moradia, segurança publica, cultura e lazer
tiveram alguma mudança, nos últimos oitos anos, por efeito de algum projeto
parlamentar? O que fizeram os parlamentares que cumpriam mandato na legislatura
anterior em relação a construção da obra de belo monte, por exemplo? Defenderam
o povo contra todas as mazelas que essa obra trouxe? Não! O povo mereceu deles
o silencio absoluto. Esse deve ser o significado do trabalho parlamentar.
Quantos
parlamentares assumiram a luta das famílias que serão atingidas e deslocadas de
suas moradias em função dessa obra? Quantos serão capazes de honrar os votos
recebidos, inclusive de uma boa parcela desses atingidos, e assumir a defesa
dos direitos dessas famílias? Até agora essas famílias não tiveram nenhuma
garantia de que suas casas estarão prontas em janeiro de 2015, quando a Norte
Energia prevê a inauguração da primeira etapa da obra com o enchimento do lago
principal da barragem. Qual parlamentar terá a coragem de assumir essa luta e
fazer valer a representatividade que a eles o povo outorgou? A meu ver nenhum.
Nenhum dos que foram eleitos ou reeleitos tem o histórico que os gabarite a
essa tarefa histórica. Não vejo ninguém com coragem suficiente para enfrentar a
Norte Energia e seus interesses capitalistas. Bem que esse ano de 2013 é uma
ótima oportunidade para os parlamentares municipais provarem que sabem a
diferença entre trabalho e representatividade.