Por Vitoriano Bill
No relatório da Norte Energia
entregue ao IBAMA, o Consórcio dono da Hidrelétrica de Belo Monte, informa que
tem como meta iniciar o enchimento do lago no mês de Setembro de 2015.
Neste mesmo relatório a Norte Energia
mostra a evolução de seus trabalhos juntos aos moradores atingidos pelo lago da
barragem. Informações estas que não condizem com a realidade, basta fazer uma
observação bem rápida por Altamira.
A NESA vai apontando seus resultados
e sempre que admite um passivo, ressalta que não comprometerá o enchimento do
lago. O problema que mesmo admitindo que ainda há demandas à serem resolvidas,
os números não respondem de maneira alguma à realidade.
No referente às negociações das
populações urbanas à serem realocadas a Norte Energia afirma que resta negociar
com apenas 35% do total de 7.790
cadastros. Mas em parte alguma do relatório a dona da Barragem fala dos
milhares de atingidos que estão fora do cadastro e sem perspectiva de
atendimento por parte do Consórcio.
O quadro abaixo, é do relatório da NESSA
ao IBAMA, e mostra o total de imóveis cadastrados por Igarapé.
Esses números não conta o total real
de famílias que vivem às margem desses Igarapés, e a Norte Energia insiste em
não se manifestar sobre o que fazer com os moradores que não consta nesse
quadro. Depois de muita pressão dos moradores organizados no Movimento dos
Atingidos Por Barragens (MAB), a própria NESA reabriu o cadastra de várias
famílias que vivem principalmente às margens do Igarapé Ambé e Altamira, no
entanto não passou disso, e nem relata a existência delas no documento entregue
ao IBAMA.
Em relação às famílias já realocadas
nos reassentamentos, a Norte Energia fala de projetos que visam minimizar os
impactos socioeconômicos. Mas na prática não há nenhum projeto desse tipo
efetivamente sendo trabalhado. O que de fato acontece é que as famílias saem de
perto do centro da cidade, das proximidades dos Igarapés e do rio, vão pra uma distância
que por si só já quebram as relações sociais e criam novas despesas
financeiras. Existem vários casos a serem relatados, entre eles, dos pescadores
que antes gastavam em média vinte e cinco reais pra levar seus matérias de
pesca até o rio, agora, gastam mais de cem reais. Os realocados também tem a
despesa com transportes coletivos, que custa três reais e cinquenta centavos. O
valor na conta de luz vem um absurdo, se antes pagavam cinquenta reais, hoje
com os mesmo aparelhos eletrodomésticos vem uma conta de mais de duzentos
reais.
No tangente à educação os estudantes
até agora não tem escolas nos reassentamentos, e o Consórcio dono da
hidrelétrica coloca como previsão a entrega das escolas somente em 2016.
Em relação à regularização fundiária,
pouco se fez para que o projeto saísse do papel, a Norte Energia inclusive se
vale desse problema pra diminuir os direitos dos atingidos. Ter os lotes
urbanos e rurais regularizados é uma condicionante fundamental pra nossa
região, e impacta diretamente na negociação junto às famílias, prova disso é o
quadro que vem abaixo que consta no próprio relatório da NESA ao IBAMA.
Observa-se que a RELOCAÇÃO ASSISTIDA
não foi escolhida nem uma vez até o momento pelos moradores já negociados. Isso
ocorre por que a condição pra receber a CARTA DE CRÉDITO é obrigatoriedade de
comprar um lote totalmente regular, e isso não tem aqui não região, e foi
compromisso firmado pela Norte Energia trabalhar pra regularizar essas áreas
justamente pra que essa opção de negociação fosse viável.
O relatório é um documento imenso e
tem como objetivo mostrar ao IBAMA que todas as atividades estão ocorrendo
muito bem, às margens do Xingu. A Norte Energia quer garantir a Licença de
Operação, quer encher o lago em Setembro. Mas o cenário não apresenta condições
pra isso, a menos que comece o enchimento com o povo ainda no baixão, com todos
os passivos apenas com promessa de resolução futura.
O certo é que o IBAMA deveria fazer o
acompanhamento in loco e ver se de fato tem condições pro que a Norte Energia
está propondo em tão curto prazo.