Por Vitoriano Bill
Ontem (13/03) moradores de
Altamira/Pa, organizados no Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB)
interditaram a Rodovia Ernesto Acioly. Estrada que interligada à Transamazônica
dá acesso à cidade.
Desde que Belo Monte começou a ser
construída nossa cidade sofreu um inchaço populacional desastroso, aumentando o
índice de criminalidade, mortes de no trânsito, sérios problemas no sistema
público de saúde. Falta de vagas nas escolas, sobre tudo nas creches e nas
escolas de educação infantil.
O Consórcio dono da hidrelétrica
NORTE ENERGIA (NESA) chegou aqui prometendo o paraíso à todos. Para os
impactados pelo lago foi prometido um reassentamento urbano com casas de
alvenaria, e todos os aparelhos coletivos construídos. Hoje já tem mais de cem
famílias no Reassentamento Jatobá, e as casas são de concretos, com prazo de
validade e com obrigatoriedade de uso de manual pra resguardar a integridade de
edificação. Nenhuma escola ou creche foi construídas no reassentamento.
E agora no inverno, a situação piorou
mais ainda. Centenas de famílias que ainda estão nas baixadas estão sendo
expulsas de suas casas pela cheia crescente do Xingu. O Parque de Exposição
Agropecuária já está abarrotado de famílias. Já são mais de 15 escolas com
aulas suspensas porque estão servindo de abrigo também. Os abrigos são todos em
condições insalubres, crianças e adultos disputam espaços com formigueiros e
lama dentro dos barracos improvisados.
A Norte Energia diz não ter nada a
ver com essa situação.
Acrescenta-se a isso o aumento dos
aluguéis, que impactou Altamira, Vitoria do Xingu e Brasil Novo.
Em Brasil Novo e Vitória do Xingu a
solução que as famílias vítimas do aumento exagerado dos aluguéis arrumaram foi
ocupar terras que não estavam tendo função social alguma.
Em Altamira, as famílias que não
conseguiram mais pagar aluguéis abusivos, ocuparam as áreas vagas nos baixões.
Diante dessa situação obstruir a
Rodovia foi o caminho encontrado pelas famílias pra chamar atenção da Norte
Energia, Governo Federal, Estadual e Municipal.
As famílias de Altamira querem a
mudança imediata para o reassentamento, visto que esse cenário de enchente era
previsto devido a intensidade do inverno amazônico e a intervenção da construção
da barragem no Rio Xingu, e a Norte Energia não se preocupou em acelerar as
construções dos reassentamentos. Mas lá no canteiro de obras da barragem não se
para um instante!
Os carroceiros querem ser reconhecido
como atingidos pela barragem, visto que eles não estão incluso no PBA ( Plano
Básico Ambiental).
As famílias dos acampamento de Brasil
Novo e Vitória do Xingu querem ser inclusas também como atingidas pela
hidrelétrica, que possam ter a garantia da posse da terra que estão ocupando e
serem atendidas por um programa habitacional.
As famílias se organizaram e
decidiram fechar a estrada. E assim foi feito, as 3h30 da madrugada a rodovia
foi obstruída por dezenas de trabalhadores e trabalhadoras atingidas pela
barragem de Belo monte.
Por volta das 9h30 Norte Energia,
Casa de Governo e representação dos atingidos sentaram pra discutir as pauta de
reivindicação. Após mais de 3h de negociação, pouco se avançou na pautas, mais
compreendendo que esse pouco já era um ganho para os atingidos a rodovia foi
liberada após deliberação em assembleia.
Mas hoje, eu, Fabiano, recebi em minha
casa uma AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO assinada pelo juiz DR. Gleucival Zeed
Estevão. No documento eu e o companheiro Antonio Claret fomos notificados que o
Movimento dos Atingidos por Barragens está proibidos de fazer qualquer
manifestação contra a Norte Energia, sob pena de pagar multa diária de R$
500,00.
Essa é uma forma de criminalizar os
movimentos sociais e de intimidar as pessoas de se organizarem pra lutar pela
garantia de seus direitos.
A Norte Energia que só aumentou os
problemas da população de Altamira e região se acha no direito também de impedir
as famílias de se manifestarem contra seus desmandos. O interdito proibitório é
apenas mais uma prova material da ditadura implantada através do poder
econômico desse consórcio que só trouxe desgraça pra nossa região.
E o Judiciário ainda coopera pra esse
processo injusto de calar as vozes dos oprimidos. É isso que se chama de
democracia num país aonde quem manda é o poder do capital e o Judiciário é
subserviente e fiel aos que destroem a vida de milhares de famílias.