Por Juscelino Kucinsky
Uns dias atrás ouvi um
representante da prefeitura falar na TV que Altamira é uma metrópole. Confesso
que ri da situação, mas depois passei a avaliar o real significado daquela
frase. Acredito que pra esse representante da prefeitura e para muitos outros
Altamira realmente deve ser uma metrópole da Transamazônica. Se levarmos em
conta a dinâmica das cidades por onde a rodovia passa, de fato Altamira ganha
ares de metrópole. De Novo Repartimento até Ruropólis, passando pelas cidades
que se localizam as margens do rio Xingu – na parte baixa da barragem –
Altamira é a principal cidade desta vasta região.
Mas apesar de ser essa “metrópole” da Transamazônica,
Altamira é uma cidade extremamente suja, desorganizada e mal cuidada, tanto
pelo povo como por seus governantes. Apesar da maquiada que os governos sempre
dão no inicio das gestões a cidade, na maior parte do tempo, fica abandonada.
O povo em geral não tem a menor noção de cuidado com o
espaço onde mora. Todo mundo se sente no direito de ao chupar uma bala, tomar
um refrigerante, uma cerveja ou comer um salgadinho, jogar as embalagens na rua
e ir sujando cada vez mais a cidade; todo tipo de objeto possível é jogado nas
ruas, valas e igarapés que cortam a cidade; com isso os poucos bueiros que
existem se entopem e não conseguem, dá vazão a água que deveria normalmente
desaguar no rio Xingu. O resultado disso é que nossa cidade se transforma num
caos em dia de chuva forte. Evidentemente que nossas crianças não apreendem nas
escolas a ter uma consciência ambiental - no sentido do cuidado com o espaço
onde moram. Nesse sentido se tornam adultos irresponsáveis e contribuem de
forma significativa para agravar essa situação. Por outro lado a prefeitura não
realiza nenhuma obra que contribua para minimizar essa situação. Nesses cem
anos de existência a cidade ainda não mereceu de nenhuma administração, o
devido cuidado, no sentido de ter uma rede de esgoto subterrânea, parte
integrante de um bom sistema de saneamento básico.
Como não existe uma ação política de educação em nenhum
âmbito do município, nossas crianças não aprendem no espaço publico
institucional, aquilo que também deveriam aprender em casa. Mas como educar
nossas crianças em casa, se os adultos são os primeiros a dá o mau exemplo?
Caminho
diariamente por algumas ruas de Altamira e o que vejo é uma total ausência de
cuidado dos moradores com suas ruas e seu bairro, o que não deixa de ser também
uma falta de cuidado com sua casa. De tudo se encontra jogado nas ruas da
cidade. O sindicato dos moto-taxistas (localizado na rua, esquina com a TV) é
um bom exemplo, na verdade um mau exemplo, da falta de cuidado e
irresponsabilidade das pessoas com o nosso município. O espaço é normalmente
cedido ou alugado para festas (aniversários, formaturas, festas de escolas, etc.)
nos finais de semana e quem o usa coloca o lixo produzido nessas atividades em
sacos que não suportam o ataque dos urubus e cachorros que perambulam nas ruas
e no espaço aéreo de Altamira atrás de comida. No domingo ou na segunda-feira
pela manhã o que se vê ao lado do sindicato é uma verdadeira sujeira. E que ao
que parece os responsáveis pelo sindicato pouco se importam com isso. O
sindicato e as pessoas que utilizam esse espaço cometem uma serie de erros e
deveriam ser multados por isso. Primeiro, que, neste caso, não respeitam os
dias de coleta de lixo realizado pela prefeitura. Segundo, que não acondicionam
o lixo produzido em recipientes fechados como é o correto fazer neste caso e
terceiro, que ninguém se preocupa em juntar e acondicionar novamente o lixo
espalhado na calçada e rua ao lado do sindicato, fazendo com que boa parte
desse lixo acabe na vala, prejudicando ainda mais o tão precário sistema de
escoamento da água da chuva. Isso se repete toda semana.
No
ano de 2012 a gestão tucana em Altamira, sob o pretexto de utilizar um
determinado recurso publico – repassado, segundo informações, pela Norte
Energia – ou no mínimo com a intenção de desviar boa parte desse recurso como é
praxe nas negociatas envolvendo as administrações publicas – se sabe que é na
ordem de 30% os valores desviados nas obras publicas – fez uma serie de obras
de pavimentação em varias ruas da cidade, sem, no entanto realizar um palmo de
obra de esgoto subterrâneo. Nas primeiras chuvas essas ruas alagaram, enchendo
as casas e fazendo com que dezenas de famílias perdessem seus bens materiais
(geladeiras, moveis, eletroeletrônico e outros). Como as obras foram feitas às
pressas para atender os interesses do grupo de bandoleiros que estava à frente
da administração publica não houve nenhuma preocupação com a qualidade das
mesmas e muito menos se, ao invés de melhorar, ia piorar as condições de vida
dessa população, como foi o caso. Por essas e outras a ex-prefeita Odileida
Sampaio – junto com os outros que compunham seu bando – deveria ser presa.
Outra
questão inerente ao cuidado com o espaço onde habitamos é sobre a coleta
regular do lixo domestico. Coleta essa feita por valorosos trabalhadores que,
além de se expor a uma serie de riscos, são extremamente mal remunerados. Mas
há um porem nessa questão, apesar da importância desse trabalho, as pessoas que
realizam essa tarefa não têm a menor noção do cuidado com a cidade onde moram.
Realizam essa tarefa com uma mecanicidade extrema, não se importando se, ao
rasgar uma sacola, um saco, uma caixa, boa parte desse lixo ficará espalhado
nas ruas da cidade. Não fazem nenhum esforço para juntar esse lixo e colocá-lo
no caminhão. Aqui também cabe a parcela de responsabilidade aos moradores que,
por preguiça ou qualquer outro motivo, não conseguem fazer um esforço mínimo para
acondicionar corretamente o lixo ou respeitar os dias de coleta regular. Mas
também não podemos esquecer que alguns bairros da cidade não recebem nenhum
serviço publico de coleta, ficando essa população exposta a diversos riscos com
o acumulo de lixo e proliferação de doenças. Essa população não tem muita
opção, ou faz um esforço e carrega o lixo produzido para os locais onde os
caminhões passam, ou quando podem enterram, causando uma serie de problemas
para o meio ambiente ou então ficam a mercê da decomposição dos diversos
materiais que compõem esse lixo, o que em muitos casos pode levar centenas de
anos.
Nossa
tarefa como pessoa é cuidar do espaço onde habitamos e cobrar do poder publico
que assuma a parte que lhe cabe nessa tarefa. Ou cuidamos da nossa cidade ou
viveremos numa “metrópole” suja, desorganizada e mal cheirosa.
O
limite desse texto é que 90% da população que contribui com a sujeira das
nossas ruas e bairros não leem e quando acessam a internet é, pra no maximo,
olhar as muitas besteiras que se colocam nas redes sociais.